terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Rio abaixo, rio acima

19 de Setembro de 1995 -- dia em que, pela primeira vez, O MIRANTE [que nasceu na Chamusca] “fecha” uma edição na sede que o jornal dispõe, a partir de agora, em Santarém -- passa a constituir uma data de referência para todos quantos têm tornado possível este projecto jornalístico. Para mim, que colaboro nesta aventura iniciada há quase oito anos, tal facto é-me grato, pelo muito que me diz.

Na Chamusca, nasci e fui criança; em Santarém, vivi a adolescência.

Na Chamusca, tinha o horizonte alargado dos miradouros de Nossa Senhora do Pranto e do Senhor do Bonfim; em Santarém, tive o vasto panorama das Portas do Sol, sempre com a planície em pano de fundo e o Tejo a marcar o encanto e o ritmo da lezíria.

Na Chamusca, aprendi as primeiras letras e venci os primeiros desafios da minha formação académica na Escola Secundária Municipal “Padre Fernando Eduardo Pereira”, apoiado pelo meu mentor Senhor António Dores do Carmo; em Santarém, completei o (antigo) 7º ano no Externato Braamcamp Freire, com a ajuda importante do seu Director, e também grande amigo, Dr. José Lopes.

Dos mestres que tive na Chamusca, retenho na memória o professor Filipe Baptista, a Dra. Carlota Seixas Serra, o padre Américo Cabeleira, o Dr. Ferrári e Silva e o Dr. José Barracas; dos meus professores de Santarém, não esqueço, entre outros, a Dra. Mariana Ginestal Machado, o Dr. Mário Castro, o Dr. Pombo, o Dr. Lino, o Dr. Belo Catarino e, como não podia deixar de ser, o Dr. José Lopes. A todos, presto aqui a minha homenagem!

Na Chamusca, tive os inúmeros companheiros de quem nasce numa vila onde todos se conhecem e têm uma origem comum; em Santarém, conheci muitos contemporâneos e fiz boas amizades (lembro os colegas Fernando Rei, Jacinto Lisboa, Faísca, Paulino, Lança, Neto, Hilário, Montez, Cascalheira, José Niza, Leitão, Menezes, Dias Ferreira, Quelhas, Picoto, Inácio, entre tantos outros). Por razões diversas, as vicissitudes da vida afastaram-nos do convívio, mas a lembrança guarda o melhor dessas relações, cimentadas nas mesas de bilhar do Café Central, nos matraquilhos do Café Portugal, nas mesas de ping-pong da Académica, nas tertúlias do Jardim da República ou na Livraria Escolar -- junto ao balcão da gentil Dona Elsa, que nos aturava com uma paciência sem limites. Nos intervalos, também estudávamos...

Na Chamusca, rompi muitas solas em disputados jogos de futebol de rua; em Santarém, tive o privilégio de pertencer à equipa de futebol dos juniores da Académica. O grupo, que era formado por estudantes da Escola Agrícola, do Liceu e do Braamcamp Freire e tinha como treinador o respeitado Senhor Madeira, venceu galhardamente o Regional e o Distrital e foi ao Nacional em 1955/56, com direito a fotografia no Mundo Desportivo... Desse tempo, recordo os colegas Pedro Lopes, Andrade, Claudino, Gouveia, Calado, Souto Barreiros, Ivo, Teixeira, Escabelado, Avelino, Artur, Guerra, Pereira, Orlando, Cabrita e, ainda, o Renato, com a sua caixinha milagrosa...

Na Chamusca, tive a família dos meus progenitores; em Santarém, acabei por fundar a família dos meus descendentes, ao conhecer, na família Pinheiro, aquela que viria a ser a Mãe dos meus filhos...

Na Faculdade de Ciências de Lisboa, tive o prazer de ser aluno do ilustre matemático Professor Doutor Fernando Dias Agudo, um universitário ribatejano merecedor da maior consideração -- como muitos outros, aliás, de entre os quais é justo destacar o notável historiador Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, um Homem de Santarém, por excelência, que só vim a conhecer bastante mais tarde.

Concluído o curso em 1961, quiseram as circunstâncias que a minha actividade profissional viesse a ser desenvolvida no Laboratório de Física e Engenharia Nucleares, em Sacavém -- um complexo laboratorial ímpar, em Portugal, no domínio da energia nuclear -- cuja criação e dinamização se ficou a dever, em excepcional medida, ao conceituado físico ribatejano Doutor Carlos Ferreira Madeira Cacho, cuja memória é inteiramente justo evocar hoje, a poucos dias de se completar mais um aniversário sobre a data do seu nascimento, na Golegã.


Rio abaixo, rio acima, entre Chamusca e Santarém, foi neste circuito que encontrei o quadro de valores de referência em que cresci saudavelmente e me fiz homem; foi aqui que alicercei um eixo importante das minhas amizades e o cerne dos meus laços familiares. Rio abaixo, rio acima, entre Chamusca e Santarém, é aqui que O MIRANTE vai tentar ganhar o desafio da sua implantação no Ribatejo, como jornal regional de qualidade. (Se o êxito se medir pelo entusiasmo dos que trabalham neste projecto, a aposta será ganha!) Para mim, do ponto de vista afectivo, é como se continuasse em casa, na minha segunda casa.

Artigo publicado no jornal O Mirante em 19 de Setembro de 1995
Nota - A sede do jornal O Mirante encontra-se actualmente no edifício onde funcionou o Externato Braamcamp Freire que eu frequentei. As voltas que o mundo dá...

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