segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ciência no Jardim de Infância



A manhã do dia 9 de Julho (sábado) passei-a de uma maneira diferente. Apologista que sou de levar a Ciência aos jardins de infância (http://tempoderecordar-edmartinho.blogspot.com/2011/01/vamos-levar-ciencia-ao-jardim-de.html), não podia deixar de ir ouvir Helena Martinho (minha filha) e o Prof. Carlos Fiolhais falarem sobre este tema no XII Econtro Nacional da Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI) (http://apei.pt/upload/ficheiros/var/Programa%20XII%20Encontro%20-ultima%20versao.pdf).


A Maria Helena falou da “Viagem ao Mundo da Luz” (http://www.slideshare.net/3zamar/viagem-ao-mundo-da-luz-1-prmio-cincia-na-escola-helena-martinho), um projecto realizado com os seus meninos do Jardim de Infância do Vimeiro, no ano lectivo 2009-2010, com o qual conquistaram o 1.º lugar do Prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola – Artes da Física”.
Resumo: O Projecto “Viagem ao Mundo da Luz” procurou pesquisar fenómenos da Física em três domínios essenciais: refracção da luz, reflexão, e sombra. O percurso passou pelo levantamento de ideias prévias sobre fenómenos como o “arco-íris” ou outros e também pela exploração plástica dos temas. As sessões experimentais realizadas dentro e fora da sala, com luz natural e artificial, em torno de fenómenos como a decomposição da luz no seu espectro de cores, a exploração de sombras e a fantástica descoberta da reflexão múltipla da imagem com a utilização de dois espelhos de dança, originaram múltiplos registos gráficos e verbais, discussões muito interessantes e muitas descobertas progressivamente mais concretas e científicas. Também a construção e exploração de materiais como: discos de newton, espectroscópio, caleidoscópios e relógios de sol, foram proporcionando aprendizagens novas sobre os domínios pesquisados. Existiu um constante cuidado no permear o Projecto com a imagem artística que fizesse sentido como leitura divergente dos domínios abordados. No domínio da refracção, exploraram-se pinturas de Hilma Af Klint, Hundertwasser e algumas obras do escultor britânico de Land Art Andy Golsworthy; no contexto da reflexão recorreu-se à pintura de Dali, Monet, Caspar David Friedrich e Fernand Khnopff; já quanto às sombras descobrimos as instalações em materiais e desperdícios industriais da dupla britânica: Tim Noble e Sue Webster. Também a Literatura para a Infância enriqueceu o projecto com uma leitura mais lúdica e fantasiosa, dos domínios explorados. Aqui recorreu-se a obras de diferentes origens e línguas (Portugal, Coreia, Inglaterra, América…). Livros tão belos como “Espelho” de Suzy Lee, fantasiosos como “The rainbow goblins” de Ul de Rico ou divertidos como ”Nothing sticks like a shadow” de Ann Tompert perdurarão, seguramente, na memória das crianças. Para terminar o Projecto montou-se uma Exposição (no Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro) que incluiu todo o material construído e explorado, fotografias, registos gráficos, trabalhos de expressão plástica, livros utilizados e filmagens das sessões experimentais.

Carlos Fiolhais, professor catedrático da Universidade de Coimbra e prestigiado divulgador de Ciência, intitulou sugestivamente a sua comunicação de “Ciência no jardim-de-infância: de pequenino se torce o destino”. Do brilhantismo da sua intervenção basta dizer que foi interrompido várias vezes pelos aplausos da numerosa assistência.
Resumo: É hoje consensual que a cidadania nos tempos de hoje envolve uma preparação científica básica. Apesar de ter havido alguns avanços nos últimos anos, ainda existe entre nós um enorme défice do ensino das ciências nos primeiros anos de escolaridade: no jardim de infância e no 1.º ciclo do ensino básico. Se no início do século XX o nosso problema era o analfabetismo, no início do corrente século é, em larga medida, o analfabetismo científico. Esse fenómeno, que se deve mais à pouca familiaridade com a ciência dos educadores e professores desse grau de ensino do que a falta de meios materiais, está na base do nosso défice de ciência escolar que apontei no meu recente livro “A Ciência em Portugal”, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que se expressa em avaliações realizadas em anos posteriores de escolaridade. Para o ultrapassar há que promover melhor formação de educadores e professores e propor a realização de experiências no jardim de infância e na escola básica com materiais simples e acessíveis: o êxito da colecção “Ciência a brincar”, publicada pela editora Bizâncio, que já vai em dez volumes, mostra que há uma grande receptividade à “ciência para pequeninos”. As Crianças, claro, mostram-se muito curiosas e interessadas em actividades científicas pelo que não são seguramente o problema.
“Ciência a Brincar”: http://www.editorial-bizancio.pt/coleccoes.php?col=19

É lamentável que este Encontro da APEI, onde participaram centenas de profissionais, tenha passado despercebido nos órgãos de comunicação social. Em particular, as estações de televisão, que se dispõem a gastar tempos infindos com banalidades, não têm um ou dois minutos para pôr em destaque uma questão de importância estratégica para o nosso País, a Educação de Infância.

Sem comentários:

Enviar um comentário