quinta-feira, 14 de março de 2013

Um nada, o outro nem isso!

Meu artigo publicado hoje no semanário O MIRANTE

Quando se é professor, é vulgar haver situações em que se é solicitado para qualquer coisa do tipo “veja lá o que pode fazer”. Foi o caso do senhor reitor da Universidade que me telefonou um dia, quando eu dava aulas de Física Atómica na Faculdade de Ciências de Lisboa. O aluno tinha tido nota baixa na prova escrita, o que o impedia de ir a exame oral. Eu ainda disse ao reitor que sempre aproveitava tudo o que podia ser aproveitado na escrita para dar a oportunidade da oral, mas que iria rever a prova. Reapreciada a prova escrita, nada havia a acrescentar à nota… e tudo ficou como estava. Julgo saber que o senhor reitor não apreciou a minha falta de flexibilidade.
Situação mais delicada foi quando um professor da Faculdade, que havia sido meu assistente, veio a minha casa para me dar conta da preocupação de uma mãe viúva a quem o filho informara que eu não lançara a nota na pauta, porventura por esquecimento... Ora o aluno era filho e tinha o apelido sonante de um eminente matemático já falecido, e eu nem sequer tinha memória de que alguém com esse apelido tivesse sido meu aluno. Perante a insistência do meu interlocutor – “essas coisas acontecem”, dizia ele, ao que afirmei “comigo nunca aconteceram” – dispus-me a marcar um encontro com o dito aluno para o conhecer e esclarecer a situação. O visado não compareceu ao encontro… e o professor acabou a pedir-me desculpa embaraçado com o sucedido.
Um professor de uma escola de engenharia procurou-me um dia no meu gabinete do Laboratório Nuclear de Sacavém. Queria falar-me de um concurso para preenchimento de uma vaga na carreira de investigação a que concorria um seu familiar. Acontece que o candidato fazia parte da minha equipa, mas eu não fazia parte do júri do concurso. Quando perguntei ao meu interlocutor o que pretendia ele exactamente, deu-me a entender que há sempre maneira de interceder… Registei a novidade (para mim) de que se pode dar um jeitinho “por fora”. O concurso acabou mal para o candidato.
Estas evocações fazem-me lembrar uma história que me foi contada pelo falecido doutor José Nunes Petisca, distinto médico veterinário chamusquense. Dois irmãos iam fazer exame oral da mesma disciplina no mesmo dia, e o pai solicitou um empenhozinho ao professor, que era seu amigo. Finda a prova do primeiro irmão, que correu pessimamente, o professor perguntou-lhe se ele sabia nadar. Que sim, sabia, respondeu o aluno estranhando a pergunta. A cena repetiu-se exactamente com o segundo irmão, que à última pergunta respondeu que não sabia nadar. Reprovaram ambos. Quando o pai interrogou o professor sobre o resultado, este justificou-se: Que podia eu fazer? Um nada, o outro nem isso!

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