quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Um filho do Tejo

O chamusquense Carlos Santos Oliveira publica regularmente no seu blogue "Corações da Chamusca" interessantes posts com entrevistas que dão a conhecer pessoas que de outro modo passariam sem registo que fizesse perdurar a sua memória. E seria pena. Desta vez, traz até nós a vida de um filho do Tejo, pescador e agricultor, um homem que tem muito para contar. Vale a pena escutá-lo.



sábado, 23 de novembro de 2013

Uma prova de avaliação “apatetada”

 

É defensável que existam formas de avaliar docentes: antes de entrarem na carreira ou ao nível da actualização dos seus conhecimentos, por exemplo. Nada disto é remotamente parecido com o modelo da prova de avaliação de conhecimentos e capacidades dos docentes ontem publicitada pelo Ministério da Educação e Ciência. Pela simples razão de que essa prova nada avalia e atinge os únicos objectivos de enganar a opinião pública, infantilizar os docentes e eventualmente excluir alguns destes. É quase como pedir a quem lecciona se é capaz de dizer todas as letras do abecedário. O professor e blogger Paulo Guinote, por exemplo, diz que já pediu “coisas mais difíceis aos alunos do 9.º ano”. O ministério tenta passar para a opinião pública a ideia de que os professores estão a reagir corporativamente e por inércia a esta avaliação. O modelo da prova demonstra que os docentes tinham toda a razão em rejeitá-la. Quanto mais não seja, por uma questão de dignidade.
PÚBLICO, Editorial, 23.Nov.2013


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

"Mão-Cheia de Mãos", de Teresa Martinho Marques




MÃO-CHEIA DE MÃOS
Texto: Teresa Martinho Marques
Ilustrações: Colectivo Pro
Edições Eterogémeas, Set.2013 


Segue-se o aperitivo...
Mãos dadas
Mãos entrelaçadas
Mãos apaixonadas.
Pede-se (só) a Mão
e não é que traz atrás
pessoas agarradas?


Mãos de fada tem
quem não é fada a valer
mas sabe fazer!


De Mão em Mão andaram as pombinhas.
(Ninguém põe a Mão nas minhas!)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Manuel António Pina faria hoje 70 anos


A CABEÇA NO AR
As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá para dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
                  (embora sem ver),
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isso tudo a saber
que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
só é preciso abrir os olhos e olhar,
basta respirar.   

Manuel António Pina

sábado, 16 de novembro de 2013

Avec le temps... tout s’en va


Três grandes da canção francesa em 1969 (da esquerda para a  direita): 
Jacques Brel (1929-1978)Léo Ferré (1916-1993) e Georges Brassens (1921-1981)


Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le coeur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Même les plus chouettes souvenirs ça t'as une de ces gueules
A la Galerie je farfouille dans les rayons de la mort
Le samedi soir quand la tendresse s'en va tout seule

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on se traînait comme traînent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues
Alors vraiment
Avec le temps on n'aime plus.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Cortar o tempo



Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e

outra vontade de acreditar que daqui p'ra diante vai ser diferente.


sábado, 9 de novembro de 2013

Explicação plausível para um escândalo universitário


«[…] O Guido sacudiu a cabeça para trás porque estava a ficar nervoso. Por muito que olhasse para os currículos que tinha à sua frente, não conseguia vislumbrar como havia de sair daquela alhada. Na semana anterior, tinha reunido com o Director que lhe comunicara a abertura de vários lugares de professor.
Bem Guido, como sabes, após as últimas reformas de vários colegas, o teu Departamento tem um número de professores abaixo do número máximo que lhe é permitido ter. Por isso falei com o Reitor e aceito abrir lugares de professor para o vosso Departamento, entre eles um de catedrático. Mas não queremos contratar alguém de fora, nem abrir o concurso a toda a gente, a ideia é promover um dos nossos professores associados com agregação.
― Isso são boas notícias. Finalmente! tinha respondido o Guido nessa altura, mal sabendo o que o esperava.
― Só que a lei não permite promoções internas de docentes. A lei exige que os concursos sejam externos, ou seja qualquer pessoa no mundo pode concorrer – prosseguiu o Director.
― Pois, mas isso é normal. Se queremos contratar os melhores que houver, o concurso tem de ser baseado no mérito e acessível a qualquer candidato.
― Mas assim vai ser uma trabalheira e demorar imenso tempo.
― Então como fazemos?
― Bem, fazemos aquilo que se chama um concurso com fotografia. Vocês no Departamento decidem quem querem promover. E abrimos o concurso ajustado a essa pessoa, escolhendo por exemplo a área de trabalho muito bem definida.
― Mas isso não é fazer de palhaços os elementos do júri de tal concurso?
― É um bocado... Mas paciência, tem de ser. Ou abre assim, ou não abre! – retorquiu categoricamente o Director. ― Quantos candidatos no vosso Departamento estão em condições de concorrer a um concurso de professor catedrático?
― Hmm... deixa-me contar... São cerca de doze. E como faço para escolher? Vão cair-me todos em cima.
― Esse é um problema teu. Tens quinze dias para escolher e compor o Edital onde só caiba praticamente a pessoa que escolherem.
― Eu é que escolho?
― Sim, o presidente de cada Departamento escolhe quem prefere. E eu aprovo. Mas precisas de garantir que não tens a oposição cerrada dos teus colegas catedráticos, senão não passa.
― Hmm... Isso não será fácil, seja eu a escolher quem eu ache que é o melhor para o Departamento, seja colocando o assunto à discussão com eles.
― Tu não tens nenhum preferido?
― Os que trabalham comigo e que gostaria de ver promovidos serão candidatos a lugares de professor associado e de professor auxiliar e não de professor catedrático.
― Pois então é fácil! Negoceias com os outros catedráticos do Departamento. Deixas que eles escolham (ou seja que o mais poderoso deles escolha) e tu aceitas desde que eles aceitem que os outros lugares fiquem para quem tu queres...
― Não tinha pensado nisso. Lá terá de ser...
― E mais: tens de escolher um júri para o concurso que seja favorável ao que decidirem. Nota que a lei obriga a que os membros externos estejam em maioria. Por isso tens de garantir que pelo menos um irá votar tal como os membros internos. Os restantes não interessam nada. Servem só para enfeite.
― Mas... e estas coisas todas não se sabem? Não é uma vergonha para a universidade?
― Bem... apesar de estarmos numa instituição pública, paga pelos dinheiros dos contribuintes, estes documentos não são públicos, a gente consegue sempre que não saia nada cá para fora. Dizemos que é sigiloso!
― E ninguém estranha? Não é uma forma de reconhecermos que temos algo a esconder? Afinal de contas “quem não deve, não teme”. Se estivesse tudo bem, não teríamos problemas em implementar mais transparência, nunca nos refugiaríamos em sigilo.
― Mas que complicado que tu és! E escrupuloso... fica-te bem! Deixa lá, é assim que tem funcionado. Claro que queremos evitar que apareçam problemas, e evitamos que isto chegue às notícias. Não te preocupes, não é teu problema. […]»

in João Lin YunUm Crime na Teia Universitária (pp.47-49)
Chiado Editora, Outubro.2013

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

"Números", de Carlos Santos Oliveira


Números

Os dias são tão repetitivos quanto a morte.

Número a número
as instituições somam algarismos,
tentando acertar com o quociente da vida
e ficam prenhas da dor,
de todas as crianças mortas,
pelas violações,
pelos maus-tratos,
pelo abandono,
pela fome,
pelo tiro à queima-roupa do ódio.

Número a número
o tribunal tenta subtrair da morte
os nascimentos errados,
resultados de uma matemática cruel,
onde o álcool,
a droga,
o instinto sexual
e a ausência de amor,
são valores superiores à raiz quadrada da vida.

Número a número
estas crianças sem sorte
vão subindo nos elevadores dos gráficos estatísticos
e descendo na hipotenusa da condição humana.

Número a número
se fazem as contas às tristezas,
sentimentos e emoções,
e vão aumentando nas crianças
a raiva,
a revolta,
a solidão,
o desespero,
valores que se vão multiplicando
na calculadora das suas consciências.

Número a número
estas crianças aprendem a tabuada da sobrevivência
e contam dedo a dedo
o muito pouco que são e o que têm
e os resultados são muito inferiores
aos das outras crianças.

Um a um
sentem-se apenas números
no balancete final
de uma sociedade sem valores.

in Redes (ZainaEditores, 2009)


Carlos Santos Oliveira nasceu na Chamusca (Ribatejo), onde durante alguns anos exerceu a profissão de jornalista. Desenvolveu ainda actividades como animador de rádio e actor. Viveu no Brasil, onde frequentou o curso de Línguas e Literatura Moderna e foi membro do Centro de Imigrantes Portugueses que realizava eventos de divulgação da cultura portuguesa. Bacharel em Comunicação, foi professor nos Açores e é actualmente oficial de justiça. Tem inúmeros textos publicados em vários jornais e alguns dos seus poemas fazem parte de colectâneas de poesia. Em 2008 publicou o romance É Tão Fácil Morrer, em 2009 o livro de poesia Redes e o livro de relatos Sentenças da Vida. No ano de 2010 publicou o livro infanto-juvenil A Lição do Rinoceronte, em 2011 o livro de estórias Os Filhos Não São Maus, em 2012 o livro O Peso das Gordas e este ano o livro infanto-juvenil Um Menino Feliz na Chamusca.

sábado, 2 de novembro de 2013

O guião natimorto



«Pensei em escrever qualquer coisa sobre o Guião para a Reforma do Estado, que o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro várias vezes nos prometeram desde Fevereiro e que, finalmente, apareceu por aí com um título pomposo e velho. Mas não vale a pena. O dito “guião”, escrito numa prosa oca e burocrática, não passa de uma série de lugares-comuns, por que ninguém no seu juízo jamais se interessará.»
Vasco Pulido Valente, Público, 02.Nov.2013

«O “guião para a reforma do Estado” é um documento pomposo, mistificador e assustadoramente vazio.»
«Este papel de Portas não é tomado a sério por ninguém, a começar pelos seus colegas do Governo.»
Destaques do artigo de José Pacheco Pereira, Público, 02.Nov.2013

sexta-feira, 1 de novembro de 2013