quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Educação, Ciência e Economia (ou Um Ministro Pouco Sábio)


Artigo completo de Carlos Fiolhais AQUI.

«[...] O ministro da Economia pouco sabe de Educação e de Ciência. E, absorto como tem andado nos seus negócios (tanto das empresas como da política, os dois entre nós muito bem misturados), também sabe pouco da vida real. Se soubesse, saberia, por exemplo, o que recordou há semanas no Porto, numa conferência sobre Ciência, Economia e Crise, o físico espanhol Pedro Echenique. Em 1995, quando se discutia nos Estados Unidos uma diminuição do financiamento público à investigação científica, os CEO de 15 das principais empresas de base científico-tecnológica, como a IBM e a General Electric, subscreveram uma carta aberta pedindo o reforço da ciência fundamental. Queriam que o Congresso continuasse o apoio "a um vibrante programa de investigação universitária com visão de futuro".
Acontece que o futuro costuma chegar pela mão de cientistas inovadores, em geral muito longe da “economia real”. Não faltam exemplos. O laser foi inventado há mais de 50 anos, numa equipa de ciência fundamental (ora cá está: a óptica quântica!) que trabalhava nos Bell Labs. Na altura foi chamado uma descoberta à procura de aplicações. Hoje é o que se sabe: está por todo o lado, nos cabos ópticos, nos CD, nas cirurgias, no corte de materiais, nas luzes das discotecas e até nas caixas de supermercados, por onde passam os códigos de barras das cervejas. Com a orientação de Pires de Lima jamais teria havido lasers.

Existe, de facto, em Portugal um problema de ligação das empresas com a investigação. Mas ele não se resolve com a diminuição da investigação fundamental. Não se resolve com menos ciência, mas sim com mais ciência. Precisamos, em particular, que os gestores percebam o valor da ciência, tal como os seus congéneres norte-americanos, e invistam nela, apoiando os programas públicos de ensino avançado e pesquisa, e contratando, com o seu próprio dinheiro, doutores e pós-doutores. Não precisamos de economias na ciência, mas sim de pessoas na economia que apostem na ciência.»

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