terça-feira, 30 de setembro de 2014

Opções

Meu artigo publicado hoje em O MIRANTE online

Nos últimos dias ocorreram dois acontecimentos que irão condicionar politicamente o próximo ano. Refiro-me ao caso Passos Coelho-Tecnoforma e à disputa interna no Partido Socialista entre António Costa e António José Seguro.
Já aqui dissemos que Seguro cometeu um erro político ao não responder ao desafio de Costa como impunha a lucidez. Em vez de ir logo à luta em campo aberto, preferiu “refugiar-se em tábuas”, como se diria no Ribatejo (sem ofensa para ninguém).
O erro político cometido teve vários aspectos desfavoráveis a Seguro:
1. Ao lançar mão das eleições primárias, com as quais pretendeu ganhar não se sabe bem o quê, deu tempo de antena a Costa como aconteceu nos debates televisivos, quando é certo que Costa já tinha um prestígio apreciável na área da comunicação social, ganho sobretudo com o programa “Quadratura do Círculo” em que participa há bastante tempo com Pacheco Pereira e Lobo Xavier.
2. Ao incluir simpatizantes no processo das eleições primárias, Seguro ofereceu de mão beijada a todos os que não o apreciavam (fora do universo dos militantes) a possibilidade de manifestarem a sua opinião, que lhe era obviamente contrária.
3. Ao optar por uma atitude agressiva em relação ao adversário, faceta que não se lhe conhecia, deu a ideia de ser um “queixinhas” ressabiado, que estava agarrado ao lugar ao ponto de não olhar a meios para atingir os fins.
4. Também não se percebe a vantagem de criar artificialmente um antagonismo demagógico entre cidade e campo, província e capital, entre os “doutores de Lisboa” e os portugueses da província.
Foram demasiados erros. À partida, quando foi desafiado por Costa, Seguro tinha o aparelho do partido nas mãos, fruto do seu trabalho persistente de formiguinha junto das distritais e concelhias do PS. Se, nesse preciso momento, tivesse optado logo por “ir a jogo”, Seguro teria ganho as eleições. Com o avançar do tempo, sabe-se como é: um erro aqui, outro ali, os ventos começam a mudar de direcção, vai-se formando uma opinião e, a certa altura, a pessoa adulada, embalada por abraços e beijinhos, começa a perder o pé…
A cena final teve algo de dramático. Seguro pede a demissão de secretário-geral do PS (honra lhe seja por ter cumprido a palavra!), sai da sede do partido com a família e enceta um novo ciclo de vida como militante de base, ainda assim com o lugar de deputado à sua espera. Em contrapartida, Costa ganha as eleições por uma margem significativa, sai do Fórum Lisboa em clima de apoteose, vem para a sede do PS onde é aclamado e… toma conta da cadeira deixada vazia momentos antes. É assim a democracia.
Que dizer agora do caso Passos Coelho-Tecnoforma? Pouca coisa. Foi também um erro de “timing”. As dúvidas sobre a sua honorabilidade podiam ter sido (praticamente) eliminadas se Coelho tivesse optado por uma declaração atempada de inocência. Como não o fez, e se deixou ficar à mercê de um fogo brando durante uma semana, saiu “chamuscado” da espera... Doravante, perante as dúvidas que ainda subsistem, a ideia de homem impoluto pertence ao passado. E com isto o político sofreu um rude golpe, eventualmente mortal.

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