sexta-feira, 28 de agosto de 2015

À PROCURA DO CONTEXTO DA MAROSCA >> Afinal, para que serviu o concurso?

Introdução
Nos posts Especialista em Geodinâmica precisa-se! e Nas férias de Verão é que é bom!  puxámos por duas das pontas da meada subjacente ao conluio de que foi vítima Fernando Ornelas Marques (ver Curriculum Vitae) num concurso para professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL)  nas áreas de Geologia / Geodinâmica. Naqueles posts relembrámos: (1) o facto anómalo de no júri do concurso não ter participado nenhum especialista em Geodinâmica e (2) a ideia  estranhíssima de abrir o concurso num período coincidente com as férias de Verão de 2011.
Hoje abordaremos uma questão que diz respeito a um paradoxo insanável: a decisão do júri não produziu o efeito para o qual foi aberto o concurso… e ninguém se preocupou com o desconchavo!
Orientações do reitor da UL
Segundo a orientação do reitor da UL, Sampaio da Nóvoa, e por exigência do OE, a razão para abrir um concurso para recrutar um Professor Catedrático deve ser a “existência de relevante interesse público no recrutamento, ponderada a eventual carência dos recursos humanos no sector de actividade a que se destina o recrutamento”. Em complemento, segundo o Edital 832/2011 pretendia-se com o concurso em causa proceder ao “recrutamento de um posto de trabalho de Professor Catedrático, do Departamento de Geologia, na área científica de Geologia, especialidade de Geodinâmica Externa”.
Decisão do júri
Qual foi a decisão do júri? O júri decidiu eliminar do concurso Fernando Ornelas Marques na fase de avaliação em “mérito absoluto”, como se este candidato não fosse um dos geólogos mais distintos da actualidade no panorama nacional e com “grande projecção na comunidade científica internacional” (afirmação que me foi feita por e-mail, em 2012, por um professor catedrático jubilado de Geologia da FCUL). Em consequência desta decisão, ficou em concurso apenas a candidata restante, Maria da Conceição Freitas, que (obviamente) “mereceu” a aprovação do júri.
Paradoxo
É aqui que surge a primeira parte do paradoxo. A “área científica” de Maria da Conceição Freitas é Geologia do litoral (ver aqui), o que, salvo melhor opinião, nada tem a ver com Geodinâmica, portanto não se enquadra na especialidade para que foi aberto o concurso – seja a Geodinâmica externa ou interna, pouco importa (ver Nota Final).
Assim, o resultado do concurso leva a que uma especialista em Geologia do litoral possa ocupar um lugar de professor catedrático de Geodinâmica, para cuja cátedra não tem bagagem nem futuro…
Aqui começa a segunda parte do paradoxo. A “área científica” do professor catedrático César Freire de Andrade (que foi membro do júri e era presidente do Departamento de Geologia) é Geologia costeira (ver aqui), ou seja, é coincidente com a área de Maria da Conceição Freitas.  
Assim, o Departamento de Geologia da FCUL passa a ter dois professores catedráticos na mesma área (Geologia costeira ou Geologia do litoral) e zero professores catedráticos em Geodinâmica, que era a área onde se fazia sentir a carência de recursos humanos que levou o reitor da UL a autorizar a abertura do concurso!

Conclusão
Todo o processo acabou por evidenciar uma incongruência reveladora do modo como funciona o “sistema”. 

Esquematicamente, é assim: 


um concurso é aberto na FCUL para preencher

1 (um) lugar de professor catedrático na especialidade X (Geodinâmica)

mas, em resultado da decisão do júri, o Dep. de Geologia passa a ter 

2 (dois) professores catedráticos na especialidade Y (Geologia Costeira)  
  
0 (nenhum) professor catedrático na especialidade X (Geodinâmica) 

para que foi aberto o concurso…

Como é isto possível?! 
Ninguém cuida de cotejar o objectivo a atingir com o resultado obtido?! 

Afinal, para que serviu o concurso? 
Eu sei a resposta, mas não a revelo. 
Não me conformo com a falta de vergonha, mas já perdi a inocência. 
Um dia, talvez venha a escrever uma história sobre as várias maneiras como um mestre pode levar uma alpinista a atingir o cume…

_____________________
Nota Final – A propósito da dicotomia falaciosa estabelecida pelo júri do concurso entre Geodinâmica Externa e Geodinâmica Interna para “fundamentar” a “expulsão” de Fernando Ornelas Marques do concurso, é oportuno recordar aqui o testemunho do professor da Universidade de Lausanne Yuri Podladchikov produzido em 2011 (ver aqui):
« […] I had the pleasure of doing fieldwork with Dr. Marques in SW Portugal and in the Western Gneiss Region in Norway. Fernando impressed me with his excellent abilities as a field geologist.
Dr. Marques' publication record is very impressive. It shows his ability to use many different approaches toward the understanding of observations. It shows that he uses the appropriate scientific approach: detailed observation, data analysis and modeling. He combines detailed field observations at all scales with analogue experiments, numerical modeling and laboratory experiments on real rocks. The publication record shows that he can use many diverse tools to retrieve the geodynamic evolution of large-scale regions: structural geology and tectonics, analogue and numerical modeling, experimental deformation of rocks, physics and mathematics, geomorphology, petrology, geochemistry, geochronology, geomagnetism, geodesy and geophysical sounding methods. The publication record shows his interest in many relevant fields of geosciences, from fundamental to applied, from small-to large-scale, from internal to external processes, from basic Plate Tectonics problems to regional geology problems.
In particular, Dr. Marques has the ability to relate Internal and External Geodynamics, as shown by his publications relating erosion, climate and topography (External Geodynamics) with mountain building (Internal Geodynamics), and by his research project on landslides (External Geodynamics) in volcanic islands (Internal Geodynamics). […]»


Sem comentários:

Enviar um comentário