sábado, 20 de fevereiro de 2016

Carapito-84/85 ― Conhecimentos

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas...  
produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985,  ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


O direito à diferença 
Num meio algo extremista e crítico em demasia, senti ser positiva uma aprendizagem a vários níveis da transigência, da aceitação do diferente. 
E esse foi um dos caminhos por que enveredei.

Conhecimentos
A primeira grande diferença foi naturalmente entre a minha experiência de vida e conhecimentos e os das crianças. Estas reflectem mais ou menos o tipo de hábitos e de mentalidade dos adultos com que vivem.
Partilham do seu trabalho, são chamadas a colaborar. Conhecem por isso os ciclos de trabalho, a utilização das lajes para secar milho, trigo, malhar o feijão.
Eles andam nos carros das vacas. Aprendem a tocá-las. Vão à erva e ao estrume. Ajudam a fazer a comida para os animais. Sabem e vivem profundamente os momentos de ir aos míscaros, apanhar castanha, matar o porco, fazer enchidos, deitar ou apanhar a batata... Estão ligados à terra e ao trabalho dos pais, parentes e vizinhos; conhecem os utensílios, os materiais e as máquinas usadas. Toda essa experiência de vida adquirem-na quotidianamente, pois desde pequenos acompanham grupos de adultos nos seus afazeres. Crianças de colo ainda, outras que mal andam, já vão ficando perto dos tanques ou dos ribeiros onde as mulheres lavam.
E assim, naturalmente, muito cedo as crianças ficam aptas a fazer um trabalho lado a lado com o adulto. E é no fundo o que acontece à maioria após o fim da escolaridade obrigatória.
E tudo isto é novo para mim. E tudo isto devo aprender com eles. Eles que se espantam da minha ignorância... e aos poucos tento fazê-los entender a realidade de onde vim, a distância que nos separa e ao mesmo tempo a riqueza do que temos para nos dar. 

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