sábado, 13 de fevereiro de 2016

Carapito-84/85 ― As Bruxas

O diálogo que se segue faz parte do relatório  Se-Carapito-tivesse-ondas... produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


O dia é de sol. Vamos dar um passeio... e o diálogo começa:
— Para onde vamos?
Para o arrabalde. Vamos ver as casas velhas.
— E está lá a bruxa?
É capaz de estar. Com este calor deve estar a tomar banho no ribeiro.
— E se ela nos vê?
Ela não gosta de barulho, nem de criançada... Foge logo.
— Ah! Se ela lá estiver eu pergunto se posso pôr os pés na água.
Isso! Se pedires com jeitinho ela deve deixar.
— E se ela estiver a fazer renda? Eu peço-lhe para me fazer uma camisola.
E ela é capaz de te atirar é com a renda à cara!
— E com as agulhas também?
Pois.
— Eu agarro nisso tudo e fujo.
— E se ela nos quiser bater com a vassoura? Eu tenho medo. Dá-me a mão.
— Eu cá roubo-lhe a vassoura e fujo com ela!
Íamos todos passear em cima da vassoura.
— Olha! Eu vi a bruxa preta ali ao fundo! Elas são sempre pretas?
Só aos domingos é que andam às cores.
— Anda ali! Anda ali!
— Ia a correr.
— Está ao pé da casa dos sete anões.
Se calhar viu-nos e meteu-se em casa. Vamos devagarinho. 


Quem tem coragem de ir lá acima bater à porta?
— Eu!
(O Rui sobe, bate! Tudo foge escada abaixo, escondem-se, riem, apertam-me as mãos).
— Vou lá dar um pontapé!
— Oh! A bruxa é mouca...
— Ou então está a dormir. Eu ouvi assim: rrrrr
— Se calhar ela faz a sesta depois do jantar... como os bebés! (risos).
(Exploram a casa. Dão com um vidro partido).
Olha! Esta bruxa é doida. Em vez de abrir a porta sai a voar pela janela!
— Saiu pelo vidro. Partiu-o. 


— Olha aquela casa escura. Ela deve estar lá.
— Se calhar a bruxa tem vacas e está a dar-lhes a vianda.
— Vou lá eu ver... Está vazio, nem vacas nem nada.
(Vejo a porta da tranca e atiro...)
Olha a bruxa a espreitar. Olha o nariz dela tão comprido. Quem vai lá dar-lhe um apertão?
(Batem na tranca, apertam-na, fogem. 
Depois espreitam por baixo da porta).
— Está escuro.

É porque ela tem sapatos pretos.

— Olha um buraco na parede. Ela saiu por lá.

— Já deve ter um grande galo na cabeça.

— Ela anda a passear.

Se calhar foi visitar o amigo "eco" que mora nas montanhas. Vamos sentar-nos e lanchar. Se ela estiver em casa, logo aparece.

Sem comentários:

Enviar um comentário